Translate

14 de agosto de 2014

CONFERENCIA DE ROLANDO TORO AOS ESTUDANTES 
UMA NOVA VISÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS E HUMANOS

Um dos momentos mais felizes para mim é este, aqui-agora, frente a tanta juventude em uma busca desesperada de si mesmo e de uma solução social.
A posição sentada não é uma boa posição. A posição é o movimento. Vocês, muitos de vocês, têm ouvido falar de Psicodança, que é uma arte de uma disciplina maior chamada Biodança, regida pelas regras gerais da vida. Biodança está baseada no estudo das origens mais primitivas da dança.
Quando vocês escutaram o título desta conferência: “Biodança, uma nova visão dos problemas sociais e humanos”, talvez tenham se surpreendido. Que significa isto? - alguém dirá - que num mundo como o nosso, com fome, com genocídio, com tortura, com guerra, com bomba atômica, um grupo de gente se põe a dançar? Pareceria uma inconseqüência, certo? É uma pergunta que surge naturalmente: que crêem estas pessoas? Que, com a dança, vão fazer alguma modificação?
Sim senhores, porque a dança no seu sentido mais original, mais profundo, é o movimento da vida. A dança não é balé, não é um espetáculo, não se trata de fazer figurinhas num cenário. A dança é um movimento profundo que surge do mais entranhado do homem, com o ritmo biológico, com o ritmo do coração, da respiração; é um movimento vinculado à espécie humana, é um movimento vinculado ao cosmos. É algo que nos irmana verdadeira e profundamente, não através de uma ideologia meramente conceitual, mas sim que nos irmana com tudo que nós somos. Vale dizer: cada um de vocês, ainda que não o saiba, está dançando sua vida. Cada um de vocês não está na “Divina Comédia” de Dante Alighieri, nem na “Comédia Humana” de Balzac. Está na dança do mundo, de Roger Garaudy.
Quando dois enamorados correm pela praia, isso é uma dança. Quando um homem põe seu filho sobre os ombros e brinca como um cavalo, é uma dança. Quando dois amigos se encontram e se abraçam, estão fazendo a grande dança humana: a Dança Cósmica.
Vejam: as transformações, as mudanças, para que tenham um sentido evolutivo, têm que ser em referência a um centro interior. Têm que ser em referência a um princípio de gravidade e equilíbrio; de vinculação nossa com o centro de gravidade da terra. Porque toda outra mudança é externa e não é uma mudança de fundo. É uma mudança parcial, que às vezes pode resolver problemas locais. Mas, se aquele que quer fazer mudanças sociais não muda a si mesmo, não tem nada a oferecer. Então, qualquer transformação de grupo, qualquer transformação social, nós pensamos que tem que ser feita a partir da saúde, não a partir da neurose. Quer dizer, os que fazem a transformação, que são vocês, têm que ter algo grande que dar. Tem que ter saúde, fraternidade, altruísmo, erotismo, vitalidade, vinculação com a natureza. Não há transformação político-social a partir da neurose. A gente que faz Biodança logo sente uma necessidade real, uma vocação que não é um simples contágio estudantil, mas sim uma profunda vocação, um chamado para tratar de resolver os problemas humanos na medida de suas escassas forças. Deste modo, se incorporam ao magno processo de transformação. Neste momento, quiçá pareça muito exagera-do falar da influência de Biodança numa transformação social. Mas nossos objetivos são absolutamente claros e irrenunciáveis. Vamos fazer esta transformação até onde possamos.
Em toda América há grupos de gente fazendo Biodança. Estão se pondo em contato consigo mesmo e com a gente que tem ao seu lado, com a gente que os rodeia. Já não se trata de pôr-se em relação com uma sociedade utópica, não se trata de pôr-se em relação com a humanidade “in abstracto”, mas sim com a gente concreta de carne e osso.
Eu, talvez, logo me exaspero demais, porém estou um pouco revoltado com as revoluções que se fazem a partir da neurose ou da idealização neurótica. Eu creio muito mais num revolucionário que trabalha concretamente com um pouco de gente, que naquele que se reúne para planificar o mundo e que sabe de memória os livros da transformação social. As mudanças se fazem a nível de gente; não se fazem a nível cortical, se fazem a nível hipotalâmico.
Nossa proposta é induzir vivências através da dança, do canto, de exercícios de comunicação em grupo. No começo, a gente tem pavor de alguns exercícios, porque vivemos estruturados nos preconceitos transmitidos por nossos pais e essencialmente transmitidos por um fio de patologia da história, que pretendeu separar o corpo da alma. Esta doença da cultura é anterior a Platão.
O esforço cultural de toda uma civilização para separar o corpo da alma, deu como resultado que o corpo perdesse importância: o corpo pode ser massacrado, o corpo pode ser torturado, o corpo pode ser submetido à fome, à miséria. Podem morrer povos inteiros com uma bomba de nêutrons, construída com a colaboração das mais brilhantes inteligências, porque ao final, são os princípios, a alma, o que importa. O corpo não importa. Chegamos a tal situação de civilização patológica - por esta dissociação corpo-alma - que talvez a única esperança sejam todas aquelas disciplinas, todas aquelas ações que tendem a unificar o ser humano, quer dizer, que seu corpo seja a expressão mesma de tudo que ele é, de toda sua existência.
Então, é necessário não só recusar os mandatos familiares, mas sim é necessário cortar o fio da história.
É necessário fazer uma transvaloração, acabar com os preconceitos que nos têm amordaçado, imobilizados por uma espécie de fascismo interior. Fascismo interior que tem a gente desta época e que é mantido e conservado pelas universidades, por uma série de doutrinas, leis e seitas; um fascismo interior mantido a nível doméstico pela fofoca, que é uma forma de controle social. O fascista, o policial, estão a nível doméstico. A gente protesta contra os fascistas externos que são apenas uma projeção do que nos somos.
Nós nos pomos a mordaça e protestamos contra a censura. Primeiro, nós temos de tirar nossa própria mordaça e depois, se vem a censura, protestar contra a censura externa. Mas o censor, nós o temos dentro. Então, o problema é esse: que a nível coletivo esta censura, esta repressão, esta imobilização com cadeias (que nos mesmos nos pomos) fazem uma somatória que finalmente dá origem as magnas estruturas de dominação e repressão. De maneira que primeiro temos que liberar a nos mesmos.
Realmente, eu gostaria de poder sintetizar em poucas palavras os princípios teóricos da Biodança, seus fundamentos antropológicos, sociológicos e as concepções criativas que a sustentam.
A primeira obrigação que temos como criadores é parir-nos a nós mesmos. Dar-nos à luz. Nascer de novo. Isso é o primeiro que temos a fazer. Morrer para o corpo rígido, preconceituoso, tenso, cheio de doenças psicossomáticas, sem energia, angustiado, submetido ao “stress”. Morrer para esse corpo e renascer para um corpo com mais energia, com mais vitalidade e, sobretudo, com mais amor, com mais ternura (essa palavra tão desprestigiada; a ternura).
Mas eu tive que envelhecer para dar-me contra de que não havia outro caminho. Percorri muitos outros. Agora, eu ofereço a vocês, de todo coração, experimentar, lançar-se a um trabalho com vocês mesmos, um movimento. Pôr ritmo dentro de vocês. Pôr harmonia dentro de vocês. Assumir o amor que vocês têm. Logo, de vocês mesmos vai nascer o impulso de transformação social.
Eu não creio em um revolucionário rígido, incapaz de brincar com as crianças, que não pode fazer amor, que tem problemas e conflitos terríveis. Que pode ele - tão doente quanto aqueles que governam - oferecer à sociedade? Poderá dar alguma coisa melhor do que aquela gente miserável? Aquele que pretende fazer mudanças tem que ter tal plenitude, estar tão cheio de vida, de força, que disponha de saúde para repartir generosamente. Não pode surgir uma mudança de um déficit, não pode surgir a mudança de uma carência. Tem que surgir da superabundância.
Eu creio que o Brasil é o país do futuro, da esperança, porque aqui existe a parte selvagem, hipotalâmica, emotiva. Vocês estão vivos. Eu conheço outros países, países de mortos, de gente incomunicável que somente pergunta qual é o preço das coisas, para que servem; mas que não são capazes de olhar-se nos olhos. Não tem sentido suas vidas. Nós, primeiro que nada, temos que ser bons animais.

Pergunta l: “Só uma pergunta: O Sr. não acha muito difícil a gente ir contra o sistema tecnocrático? Ele é muito poderoso; eu acho, sabe?”
RT: Por isso temos que transformar também a tecnocracia. Isto, para muitos, pode parecer uma utopia: levar aos tecnocratas um princípio de vida. Em São Francisco, na Califórnia, fiz Biodança com um grupo de físicos nucleares, cibernéticos, engenheiros atômicos, e logo eu me dei conta que também têm um fundo humano que pode ser resgatado. Se essa gente faz Biodança, dela vai nascer as pontas de lança que vão impedir a expansão da bomba de nêutrons. Nós, desde nossa pequena órbita de influência, pouco podemos fazer. Mas toda a gente tem que ser englobada em uma transformação.
É importante possuir certa adaptação, certo nível mínimo de sobrevivência e uma capacidade de luta muito grande. Não se pode repetir o processo dos “hippies”, que descobriram um paraíso, o qual não souberam defender. Eles souberam perceber o “irmão”, a doçura do mundo, da natureza. Através da droga descobriram uma nova visão, mas foram incorporados e arrasados pelo sistema. Por que? Por uma simples razão: ficaram em êxtase de contemplação. Não reforçaram sua capacidade de luta. Como os sumérios, que aparecem nessas cerâmicas milenares, com grandes olhos contemplativos e que foram arrasados pelos povos guerreiros de forte identidade agressiva.
Pois bem, o aluno de Biodança tem capacidade de luta, tem identidade, não é fácil de dominar, reforça sua identidade quando é necessário, mas não anda permanentemente pondo barreiras. Quando tem de fazer o amor, quando brinca, quando está na montanha, em meio ao coro dos passarinhos, quando tem que mergulhar no mar, não tem que estar se defendendo com sua “couraça caracterológica”. Tem que estar em transe, como os “hippies”. Mas quando chega o momento de tomar em suas mãos os elementos de transformação, tem que ter uma lucidez e uma consciência absoluta. Tem que ter uma identidade forte. Isto que não tiveram os “hippies” e que por isso desapareceram. Jerry Rubben, um dos líderes dos “hippies” norte-americanos, esteve em minha casa no Chile e me contava que muitos grupos foram a pequenas cidades com suas barracas e a gente “decente” do povo, na noite, os matou com paus, porque tinham medo de que estes homens demasiado paradisíacos violassem suas filhas. Os Mataram-nos a pau na noite. Quando de me perguntava “Que podemos fazer?”, eu respondi: “Instalar-se na grama, com as barracas; mas ter armas modernas. E, em caso de que venha a gente decente‟ para agredi-los, vocês disparam uns tiros no ar”.
Quero dizer: a gente de Biodança não dá a outra face. Se lhe golpeiam, agem em “feed-back”. Não respondem tampouco de forma desproporcional. Mantêm firmeza permanente. As pessoas dão amor, você dá amor. As pessoas dão violência, você resiste. A luta, porém, é desigual. Que podem fazer, por exemplo, os ecologistas que pertencem à resistência ecológica, contra os imensos interesses econômicos que querem não apenas poluir nossos rios, poluir o ar, poluir as ruas, destruir as espécies, senão que querem também destruir nossos genes contaminando-os com o lixo radioativo, de forma que durante milhares de anos nossos netos e bisnetos herdem a monstruosidade? Porque o sistema tecnológico não se detém em nada. Não lhe importa nem seus próprios netinhos. O que lhe importa é seu negócio.
Bem, é por isso que a Biodança, junto ao prazer de viver, propõe uma fenomenologia da coragem de viver. Temos que atrever-nos. Têm que tirar a mordaça que vocês mesmos se põem. Têm que tirar a polícia e os fascistas que têm dentro.

Pergunta 2: “Como o Sr. considera que se pode metabolizar a agressão? Quando um está bem e, a seguir, sai à rua e começa a encontrar pura violência, como elaborar esta agressão?”
RT: A agressão é uma cadeia de agressões que deflagra. O importante é que você tenha uma agressão não neurótica, mas sim uma agressão criativa. Porque a agressão é como a deflagração atômica: o chefe de uma instituição insulta a seu empregado. O empregado guarda sua violência e insulta sua mulher quando chega em casa. A mulher bate nas crianças, para descarregar. As crianças, já indefesas, puxam o rabo do gato.
Mas o afeto, a fraternidade, a ternura humana, também deflagram. Eu, de alguma maneira, sinto a aula de Biodança como um campo de guerra: enquanto estão torturando em outro lugar a uma pessoa, na aula de Biodança dois estão dando um abraço profundo e sentem o poder da fraternidade. Enquanto se está produzindo a aniquilação num lado, está se reproduzindo a criatividade na aula de Biodança. Quer dizer, de alguma maneira são campos de guerra. Eu estou descobrindo que alguns mecanismos são mais sutis que a agressão. Eu creio que a batalha é muito difícil e talvez inútil. E talvez sem esperança. Mas eu penso que se não se faz algo, aí sim que não há esperança.
É possível que logo sejamos arrasados; enquanto estamos numa aula de Biodança cai uma bomba atômica ou chega a polícia e enterra uma baioneta na barriga de todos nós. Tudo é possível neste mundo. Mas é provável que logremos certas modificações profundas, claras, em gente que, a seguir, vai ser dirigente do país, que vão ser vocês, porque e questão de tempo. Então, é possível que haja modificações profundas. Que possa haver uma saída. Agora, nós não postulamos uma ideologia política concreta; postulamos simplesmente condutas de relacionamento profundo.

Pergunta 3: “Biodança utiliza rituais mágicos?”
RT: Biodança não tem conotações mágicas. Baseia-se na ciência convencional, na Biologia, na Neurologia, na Psicologia avançada, na Antropologia, na Sociologia, na Ecologia e nas Ciências Políticas. Mas não tem magia, porque as coisas que não podemos explicar de acordo com a ciência, nos suspendemos o juízo.

Pergunta 4: “Como se produz o processo de dissociação nas pessoas?”
RT: O corpo tomou significações simbólicas e, através destas simbolizações tem-se dissociado. Por exemplo, a parte que vai da cintura para cima é - dentro da concepção idealista platônica - sublime. Daí para cima é algo puro. A menina diz para o seu namorado: “Você pode fazer o que quiser daqui para cima, mas não daqui para baixo”. Então, se o namorado começa a tocar as coxas dela, ela diz: “Você não me ama, você me deseja”. Aí está revelando toda a sua dissociação. Tem parcelado seu corpo com conteúdos simbólicos que têm distintas conotações.
O ser humano, atualmente, está dividido, dissociado devido a estas simbolizações de tipo cultural. Por exemplo: uma pessoa que sente muita culpabilidade, culpa porque lhe deram um beijinho, porque não fez os deveres da escola, porque chegou atrasado na universidade, porque ganha pouco etc. Vive num mundo de culpa. Então, essas culpas se vão registrando sobre a musculatura e finalmente a pessoa tem um bloco de rigidez dorsal. Outra sente repressão sexual. Pensa que o sexual é maligno, perigoso, vergonhoso, pecaminoso. Está constantemente projetando sobre a pélvis esta repressão (mecanismo denunciado por Wilhelm Reich). Isto põe tensa a musculatura pélvica de forma crônica e provoca transtornos da função do orgasmo e rigidez no ato de caminhar.
Outro exemplo é a dissociação afetivo-prática: as pessoas sentem ou desejam uma coisa e fazem outra. Este transtorno se revela pela dissociação entre os braços e a região peitoral.
Ocorre também outra forma de dissociação a nível do rosto, por exemplo: se você encontra uma pessoa e lhe pergunta: “Como vai você?" – “Tudo bem”, responde, sorrindo, com lágrimas nos olhos.
A dissociação corporal entre a parte superior, “sublime”, “espiritual”, e a parte inferior, “sexualmente vergonhosa”, “animal”, é própria dos neuróticos, em especial dos histéricos e obsessivos. A gente está despedaçada pelas ideologias, preconceitos, temores, medos. Quer dizer, por toda uma patologia cultural.

Pergunta 5: “Como é relação corpo-alma na Biodança?”
RT: As civilizações ocidental e oriental fazem esforços desmesurados para separar o corpo da alma. Em Biodança se busca conquistar a unidade para o indivíduo. Corpo e alma são duas dimensões de uma só realidade. A integração que se faz em Biodança consiste em fundir corpo e alma em uma Totalidade.

Pergunta 6; “Se em Biodança só se trabalha em grupo, como se tratam os problemas individuais?"
RT: Os terapeutas, em geral, pensam em função de uma patologia individual, quando na realidade a patologia é social. A patologia se radica nos valores que as pessoas sustentam. Quando a pessoa vai ao psicólogo e diz: “Eu quero solucionar meu grave problema. Meu namorado foi embora”. Esse não é um problema. O assunto dela é que ela não sabe enfocar a forma que tem os relacionamentos humanos. Porém, o que ela tem que melhorar é seu modo de vinculação. Não resolver o problema com esse namorado só. Então, para resolver o problema de sua forma geral de vinculação, tem que mudar alguns valores. Mas esses valores não se mudam a nível da consciência, senão que se mudam somente ensaiando, experimentando as mudanças “aqui e ago-ra” na aula de Biodança. Porque você pode ter muito clara a dinâmica do seu conflito, mas “na hora certa” tudo fica igual. Tem clara a dinâmica, mas a conduta continua patológica. Então o que tem que fazer é modificar, experimentar novas respostas, regravar novos reflexos e isso somente tem que ser no terreno aqui-agora e não num “como se” imaginário. Tem que ser num “em si”.
Agora podemos fazer algumas experiências. O importante é viver as coisas mais que pensar. Biodança não é autoritária. Seria uma contradição. De modo que participam as pessoas que desejam.

4 de agosto de 2014

A LINGUAGEM DO CORPO - 2002

RESUMO
Neste artigo pretendemos refletir sobre a linguagem do corpo, que linguagem é essa e como se manifesta, distinguindo-a da linguagem construída mediante a língua. Linguagem numa dimensão simbólica e expressiva que está presente na fala e no corpo. Pretendemos mostrar a importância do corpo como corporeidade vivida e a vivência como fonte de manifestação de uma linguagem profunda própria do corpo e que se revela de modo direto e sensível, sem precisar da mediação de uma língua para ser captada e compreendida. Por isso podemos dizer que o corpo tem uma linguagem que é simbólica e outra que não é, por ser vivencial, própria da sensibilidade e dos sentimentos.

Palavras-chave: Linguagem, símbolo, expressão, corpo, corporeidade e vivência

ABSTRACT
In this article we intentd to reflect on the body language, which language is that and how it is demonstrated,discerning it from the language contructed by the language. Language in a simbolic and expressive dimension that are presented in the conversation and in the body. We intend to show the importance of the body as knowing in body
and the life experience as source of display of a deep language private of the body and that reveals it self in a sensible and direct way, without needing the mediation of a language to be catched and held. That´s why we can say that the body has one language that is simbolic and another one that is not, because it is life experienced.

Key-words: language, simbol, expression, body, knowing body, and living experience.

            INTRODUÇÃO

Linguagem e corpo, que relação é essa? A linguagem se encontra no terreno da reflexividade, enquanto o corpo se situa na região primária da pré-reflexividade. A fala é subjetividade e o corpo é visibilidade – o olho e o espírito (Merleau-Ponty, 1984).
Em meio a essas questões, como falar da linguagem do corpo. Que linguagem é essa? Primeiramente, vamos discorrer sobre a linguagem, situá-la em nossa reflexão; depois discutiremos o corpo como corporeidade vivida para, logo a seguir, problematizarmos a possibilidade do corpo ter linguagem, dizer que o corpo fala de um outro modo, que expressa, que propicia um outro tipo de linguagem, um outro tipo de comunicação.

A LINGUAGEM HUMANA

Quando falamos de linguagem estamos tratando de algo simbólico, de uma representação acerca de um mundo externo e interno a nós mesmos. A linguagem, nesse caso, é categorização, é explicação do mundo objetivo e do que se passa em nosso interior. É, também, comunicação, interação, orientação e regulação daquele que fala e daquele que ouve, vê ou lê. Além disso, a linguagem é via de acesso ao outro e revelação daquele que fala.
Língua e linguagem andam juntas. A língua é própria das experiências coletivas e permite a comunicação e o entendimento entre os membros de uma coletividade, a qual, também, se encontra organizada através de sua língua. Por outro lado, apesar da linguagem encontrar-se estruturada mediante a língua, ela revela um caminho de duas faixas entrelaçadas: uma que se origina e denota o movimento da coletividade, pois tem a ver com a experiência e vivências coletivas, com o universo de significados socialmente construídos pela coletividade (consciência social); e uma outra faixa que está relacionada com as experiências e vivências particulares de cada um de nós no mundo em que vivemos; revela o sentido, que é próprio da consciência pessoal e não da língua.
            Em uma de suas conclusões mais importantes, Vygotski (1991, 1993) postulou que o mais central no estudo da consciência é a análise do sentido ou significado pessoal, a relação própria do sujeito com os fenômenos objetivos conscienciados. Para ele, o significado (sentido coletivo) é supra-individual e constitui o conteúdo da consciência social, enquanto o sentido (significado pessoal) só pode ser individual, ou melhor, psicológico. Podemos dizer, inclusive, que a consciência social é uma consciência de significações, enquanto a consciência pessoal é uma consciência de sentidos. Isto não implica a separação de ambas, pois no significado o sentido se objetiva por meio da linguagem.
            O sentido em Vygotski é central na consciência e pode ser analisado através da estrutura semântica da própria consciência, já que esta estrutura é construída a partir da atividade formativa do sentido, presente na linguagem. Para ele, o sentido expressa a atitude do individuo para o mundo externo. Em Freire, o sentido implica a atitude para ler e pronunciar o mundo. Não significa isso que o sentido seja um componente fundamental de um sistema mental puramente cognitivo, e Vygotski nem Paulo Freire tampouco o concebiam assim. Segundo Kohl de Oliveira (1992), Vygotski entende que o sentido forma parte de um sistema dinâmico de significados, no qual o intelectual e o afetivo estão integrados, pois cada idéia contém uma atitude afetiva frente à realidade interna e externa. O sentido surge e se desenvolve através da contradição entre os significados apreendidos, os motivos e a realidade mesma da vida objetiva da pessoa.
            Para Freire (1994b), o ato de conhecer é o ato de ler e nomear a realidade, pronunciar o mundo; é também lhe dar um sentido e apropriar-se dele. Segundo Aguilar (1998), o ato de ler “es un proceso dialéctico que sintetiza la relación existente entre conocimiento-transformación del mundo y conocimiento-transformación de nosotros mismos” (p. 113). Enquanto a conscientização ou aprofundamento da tomada de consciência (Freire, 1994a, 1979; Simões Jorge, 1981) é o processo de pronunciar a palavra com os demais (diálogo), uma palavra que se encontra enraizada na experiência de vida de quem a pronuncia (Fiori, 1995). Não é uma simples tomada de consciência, mas sim o distanciar-se para explicar a realidade e, ao mesmo tempo, o aproximar-se para transformá-la. Não surge como resultado do simples desenvolvimento econômico, já que necessita da presença participante do individuo em sua realidade social.
            Freire considera que o aprender se refere ao conhecer as significações e suas relações, mas a conscientização tem lugar quando se constrói o sentido dessas significações e de suas relações. Para ele, nesse caso, se encontra a educação e não somente o ensino.
            Tanto em Habermas (1987) como em Freire (1981) a comunicação reflexiva é fundamental. Para ambos, segundo Rebellato (1998), a linguagem é o centro da comunicação. Para o autor de Pedagogia do Oprimido, o diálogo é a base da comunicação entre os homens e nele se encontra o núcleo do fenômeno vital e de uma existência não solitária (compartilhada) e criadora. Para Freire, “ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo, todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa” (cit. Vitón de Antonio, 1998:62). Por isso a exigência do diálogo, que é também, segundo Flecha (1997), um diálogo igualitário.
            O diálogo vai mais além do intercambio verbal, se torna um mecanismo de interiorização da realidade físico-social, em sua diversidade e mudança, e ao mesmo tempo de expressão do indivíduo no mundo. Nele se encontra a problematização, um modo de perguntar a partir do reconhecimento da existência do outro e do conhecimento que ele tem do mundo.
            No diálogo os discursos falados (linguagem falada ou fala) se encontram para pronunciar o mundo e a si mesmos. Entendê-los é fundamental, por isso a importância da análise do discurso. Apesar de, muitas vezes, se confundir com o campo da lingüística, a análise do discurso se diferencia pelo fato de centrar-se mais na linguagem, que é distinta da língua (Saussure, 1949; Jakobson, 1963; Barthes, 1984), e também por buscar, entre outros aspectos, a objetivação e o conhecimento do sujeito que discursa, mediante a escrita (discurso permanente, texto) ou a fala (discurso transitório, conversação).
As duas linguagens são ricas de informações distintas, com suas vantagens e desvantagens. Como assinala Brown y Yule (1993), a linguagem escrita é mais rica que a linguagem falada, pois contém uma organização do discurso mais rica e elaborada, além de uma maior densidade informativa que, normalmente, não encontramos na conversação.
Sem dúvida, há também de se reconhecer que a linguagem falada (discurso mediante a fala) não é um conjunto de palavras e frases desordenadas, aleatórias, pois possui um alto grau de organização e coerência, como é possível de se observar na conversação especialmente transcrita, apesar de que não se encontra ordenada como no discurso escrito.
            Existe uma riqueza na fala, presente não só nos significados coletivos e nas estruturas da língua, senão também nos elementos de duração, pausa, entonação, repetição e estilo, configurados em um modo particular de comunicação, expressão, interação e significação pessoal (sentido) acerca de si mesmo e do mundo.
            A fala nos dá uma riqueza de informações acerca da consciência (Luria, 1987; Vygotski, 1989) e do pensamento (Piaget, 1985), já que contém, além de dimensões fisiológicas e lingüísticas, dimensões ideológicas e psicológicas (Bajtín, 1988), especialmente quanto ao significado e ao sentido. A fala se realiza mediante o pensamento e a linguagem, mas se situa mais além, quer dizer, segundo Vygotski (1991), a fala é um correlato da consciência e não do pensamento, porque contém além do significado o sentido, que é algo particular da pessoa em sua relação com o mundo e consigo mesma.
            Para Luria (1990), a linguagem inclui, além do significado e do sentido, as “unidades fundamentales de la conciencia que reflejan el mundo exterior.” (p. 24), isto é, a percepção, a memória, a atenção, a generalização e abstração, a dedução e inferência, o raciocínio e solução de problemas, a imaginação e a auto-análise e a auto-consciência.
            Segundo Habermas (1987), no modelo comunicativo da ação, a linguagem (falada) é importante quando os falantes ao utilizar-se de orações buscando o entendimento, estabelecem além de outros tipos de relações com o mundo, uma relação de tipo reflexivo. Para Freire (1990), isto ocorre na comunicação que busca o conhecer crítico, o entendimento e a construção social e pessoal por meio do diálogo, algo inexistente na dominação (relações de poder autoritário). No diálogo as consciências estão em contato direto. 
            Dado que a linguagem é fonte do comportamento social e da consciência (Vygotski, 1991), o discurso da pessoa nos permite, em Psicologia, Psicoterapia e Educação, apreender e compreender aspectos essenciais do processo de construção-destruição-reconstrução de sua existência (Frankl, 1990), da organização e funcionamento de sua atividade consciente (Luria, 1989, 1990) e da relação que estabelece com os outros e com seu mundo histórico-social enquanto ato de explicação e de transformação da realidade (Freire, 1979; Vygotski, 1993). Isto se vê claramente na análise da linguagem escrita da personagem Severino e na análise da linguagem falada de Severina, mulher do interior da Bahia, realizadas por Ciampa (1987).
            Ao trabalhar com o significado e o sentido na fala, como também com seus enunciados, a análise do discurso nos permite objetivar estruturas e conteúdos subjetivos particulares que, em geral, deixam de ser considerados ou se apresentam muito mais limitados em outros métodos.
            Outro aspecto a considerar no discurso é o contexto onde ele se produz. É necessário levar em conta o contexto cultural do discurso produzido para que este se faça compreensível. Isto implica considerar que o discursante é criador de realidade social (Garfinkel, 1967) e que também a interpreta a partir de dois elementos chaves, ou sejam, o conhecimento social e os procedimentos de interpretação (Mehan y Wood, 1975), os quais lhe permitem dar relevância contextual ao discurso.

 O CORPO É CORPOREIDADE VIVIDA

Baseando-se na visão biocêntrica, entendemos que o se sentir vivo implica no ato de tecer a nossa própria vida, como pessoa amante, ativa e expressiva, presente no cotidiano e estando "dentro e fora" do mundo - dentro, como corporeidade amorosa; e fora, como significação e sentido. Os dois modos constituindo um só ato, um só gesto, uma só dança, na qual se é pleno em visibilidade e subjetividade.
O sentir a vida, o sentir-se vivo, revela a corporeidade vivida, a identidade como presença, como expressão natural e espontânea da vida acontecendo como singularidade. Do sentir-se vivo é que surge a percepção do si-mesmo, de um sentimento de vida, do qual emerge um processo antigo de desdobramento da vida em sensações corpóreas. A identidade vem daí, da Biologia em direção à Psicologia, da transformação do animal em espírito enraizado ou corporeidade vivida, do desdobramento do selvagem em linguagem e o seu retorno a um lugar antigo, primal, fonte de sua aparição e concretude em um mundo natural e espontâneo – a vida animal (Góis, 1995).
Ao retornar ao movimento primordial, à vida instintiva, nos conectamos a uma verdadeira conspiração pelo ato de viver, pelo despertar de nossas potencialidades, possível em um mundo sensível de movimento, nutrição e amor. Isso só é possível através de um corpo aberto e flexível.
Sinto profundamente a existência de uma essência humana libertária, de algo interior que impulsiona o ser à vida e a algum lugar do infinito, cuja origem não reside na consciência ou em qualquer forma de representação mental, mas sim, em nossa raiz animal e selvagem, mundo bruto e indiviso. Aí encontramos a Vida como possibilidade singular, potencialidade muitas vezes bloqueada, reprimida, negada, porém sempre presente. Só desaparece com a destruição do ser (Rogers, 1986). Para conectar-se com ela é necessário “o retorno às origens da própria reflexão e descobrir seu solo anterior à atividade reflexiva e responsável por ela“. (Chauí sobre Merleau-Ponty, 1984:VIII).
            Toro (1988) compreende a identidade a partir da vivência do estar-vivo, uma intimidade com a vida essencialmente visceral.

“A vivência fundamental da identidade surge como expressão endógena do estar vivo. A vivência primordial do estar vivo é a mais comovedora e intensa de todas as vivências (...). A vivência de estar vivo estaria afetada constantemente pelo humor corporal e pelos estímulos externos, entretanto sua gênesis seria visceral. A vivência do estar vivo daria origem a dois estados diferenciados entre si.
a. As primeiras noções sobre o próprio corpo.
b. As primeiras noções de ser diferente.
As primeiras noções sobre o próprio corpo implicam que a percepção do próprio corpo evolui através do tempo mediante as distintas formas de sentir-se a si mesmo (ser-no-mundo). Diferentes experiências organizam estruturas de respostas: o corpo como fonte de prazer e o corpo como fonte de dor e sofrimento. As primeiras noções de ser diferente se dão no contato com o grupo. A identidade se faz patente no espelho de outras identidades. As primeiras noções de ser diferente conduzem à consciência da própria singularidade e ao ato de pensar-se a si mesmo frente ao mundo. O pensar-se a si mesmo configura a auto-imagem que, por sua vez, origina os esquemas de decisão com respeito às próprias expectativas e às ações para alcançá-las. (...) As duas noções sobre o corpo levam à auto-estima e à consciência de si mesmo“ (Toro, 1991: 271- e 272 ).

            Entendemos que a identidade é um fenômeno antes de tudo biológico e relacional, surge das sensações endógenas, necessita do outro e se constitui um paradoxo: a. Venho mudando, porém sou o mesmo; b. Só me faço presente na presença do Tu. A identidade é visível (corporal) e inacessível à interpretação, por ser expressiva e estética.          

            a. Identidade, Presença e Corporeidade Vivida
            Tomando como ponto de partida as reflexões anteriores, compreendemos a identidade presentificada ou corporeidade vivida, como a capacidade de se sentir como centro de percepção de si e do mundo, em um profundo sentimento de estar-vivo, sentimento este que é corporal, comovedor e conectado a tudo o mais. Isso implica que o ponto de partida estruturador da identidade é o sentir-se vivo, esse instante de presença e de transmutação da corporeidade vivida em mais presença e mais vínculo com o mundo, fazendo-se desse modo corporeidade amorosa. Por esse caminho encontramos a identidade como expressão de uma totalidade e não de partes de si mesmo, só possível de se realizar na imediaticidade do viver, na vivência (Almeida, 1994), portanto, na corporeidade vivida e não na consciência.
            A identidade, como presença, não se pensa, se vive no aqui-agora - Presente Eterno. Ela é inacessível a qualquer forma de compreensão e visível frente ao outro. É acessível ao outro e à própria pessoa somente na vivência. Só em seus aspectos parciais se constitui como significado ou noções de si mesmo, como história e cultura, pois o ser humano é incapaz de compreender a identidade (ou o si-mesmo no mundo), mas é capaz de senti-la, intuí-la e viver a liberdade nela presente, principalmente na forma de movimento, expressão, dança e linguagem.
            O corpo animal pulsa como sensorialidade e o animal humano tem essa sensorialidade transmutada em sensibilidade, instante no qual o humano se fez como expressão imediata, concreta e sutil do animal transformado em espírito, do animal comovido pelo instante. Nesse instante o animal abriu a porta e construiu progressivamente um mundo interior que, no ato de construí-lo, o fazia cada vez mais mundo subjetivo - transformou a Biologia em Psicologia. Saiu da limitação sensorial para a liberdade da sensibilidade. Ainda que de maneira confusa se construiu como ser-no-mundo-e-do-mundo, um Ser de possibilidade e realidade, cada vez mais visível, complexo e não compreensível, nem para si e nem para os demais. Apenas podendo ser apreendido esteticamente.
            Pulsando e se transformando no “jogo dos dados” (por caminhos instáveis e irreversíveis, caminhos indissolúveis e pulsantes, sincrônicos, do tipo imanência- transcendência, harmonia-caos, sístole-diástole, grandiosidade-pequenez, yin-yang, universalidade-particularidade), a identidade evolui por afinidade ao movimento e à dança da vida, uma dança na qual se é a própria dança, se é o próprio gesto. Uma olhar que olha, um sorrir que sorrir, um tocar que toca, cada gesto contendo toda a corporeidade - a pessoa visivelmente inteira em uma totalidade maior.
            No instante em que a sensorialidade, por caminhos desconhecidos em seus aspectos mais íntimos se desdobrou em sensibilidade, o animal se revelou humano, se presentificou como ser-no-mundo-e-do-mundo. Libertou-se da sensorialidade e da aderência ao imediato e se aprofundou na sensibilidade do presente de um mundo que, também, descobre sensível. Corpo sensível em um mundo sensível (Merleau-Ponty, 1993).
            Nesse momento o mundo objetivo surgiu com toda a sua potência e beleza, se imprimiu em imagens sensíveis – a alma incandescente e cósmica transmutada em alma do Ser. O coração pulsa como antes e assim continuará, mas o sentido passou a sentir, o olhar passou a olhar, o tocar passou a tocar, o caminhar caminhou, enfim, o abraço abraçou. A sensorialidade e as emoções animais não desapareceram nesse instante de transmutação, apenas integraram-se a uma nova realidade interna e relacional nascente, a uma nova complexidade emergente, permitindo novos modos de interação do interior com o meio, além do surgimento da linguagem, da consciência e de todo um mundo subjetivo. A realidade da sensibilidade, o sentir-se, ainda difuso e confuso, com imagens e percepções carregadas de emoções, transformando-se em sentimentos e “espantos” diante das novas sensações e percepções com relação a si mesmo e ao mundo circundante.
            Progressivamente, o fusional foi substituído por uma sensibilidade que modifica o psiquismo animal além dos condicionamentos, que amplia a sua interioridade no rumo de uma liberdade animal que se faz espírito- enraizado,  que se faz corporeidade vivida.
            O uso de instrumentos não foi o começo, o que criou o ser humano; o que o fez foi o mover-se sensível, um ato sutil que surpreende o próprio animal ao acontecer por um processo de ordem e caos, acaso e necessidade. O mover-se sensível foi o primeiro gerador de relações mais complexas entre o animal e o mundo, relações que se tornaram subjetividade na forma de imagens, sentimentos e significações - realidades interiores nascentes.
            O mover-se sensível desencadeou nos instantes iniciais de sua aparição um processo novo animal-entorno, um processo de subjetivação do mundo e de objetivação do ser, seja através de um pedaço de osso que o animal movimentou, ou de novas emoções que sentiu frente a um membro do bando que jazia morto, ou do riso em vez de grunhido, ou em vez da relação sexual por trás, a relação sexual pela frente, abraçados, rosto com rosto. Os significados começaram a surgir desses movimentos grosseiros, rudes e sensíveis, surpreendendo o animal que, aos poucos e abruptamente, se fazia humano.
            Pode-se pensar em atrevimento do autor, não obstante o que entendemos, quanto ao ocorrido no alvorecer da humanidade, foi o surgimento do humano, possibilitado por sutis e novas sensações corporais (surgidas após o animal descer das árvores e fixar-se em posição bípede, deixando as mãos livres não só para agarrar, senão também para se comunicar, tocar e acariciar). Um processo afastado do estado de equilíbrio sensório-motor do animal, emergindo em um instante dado da ação desse mesmo animal, provocou um novo tipo de conectividade interna cerebral e psíquica, uma rede neuropsíquica qualitativamente nova, uma Filarmônica capaz de tocar a sensibilidade nascente e a própria interiorização do mundo.
            Não foi qualquer ação que fez o ser humano, foi principalmente uma ação sensível, o mover-se sensível, uma ação mais complexa e sutil tecida na rede neuropsíquica em formação. O animal podia agarrar qualquer objeto, como de fato o fazia, mas para “comover-se” com o ato de agarrar, movimentar ou balançá-lo de outro modo, foi necessária a emergência de uma sensação qualitativamente diferente das anteriores no momento da realização deste ato. Daí surgiu o ser capaz de olhar a montanha e sentir mudar sua respiração; ver e sentir silenciosamente o vôo do pássaro ou a água cristalina seguindo seu percurso de riacho, ora tranqüila, ora rápida.
            Que fenômeno foi esse, posterior ao mover-se sensorial e programado, anterior ao surgimento dos instrumentos e significados, que fez o humano? Que fluxo tão poderoso arrancou o animal da limitação sensorial e o projetou no mundo presente da comoção e da liberdade? A sensibilidade primitiva emergente formada no mover-se de um outro modo (sensível) fez esse fluxo. Ela tornou possível a vivência primitiva e, logo, tornou-se vivência. Fez o humano, primeiramente como artista ou algo assim para, em seguida, o tornar “faber” e “sapiens”.
            Entendemos o salto evolutivo se dando no surgimento da sensibilidade, no mover-se sensível, condição necessária ao surgimento da vivência. Nesta, a criatura se torna amante.
            Para unir o reflexivo à sua origem, à pré-reflexão, Merleau-Ponty (id) fala da vivência da corporeidade e diz: “O corpo apresenta aquilo que sempre foi próprio da consciência – a reflexividade; mas apresenta, também, aquilo que sempre foi próprio do objeto – a visibilidade. O corpo é esse visível que se ver, esse tocado que se toca, esse sentido que se sente”.
            O corpo é origem e base de um mundo sensível, “...selvagem e bruto, desde onde emergem as categorias reflexivas”. (Chauí, id). Para essa autora, o homem é um ser de abismo quando descobre o selvagem que existe em si. O homem tende à manifestação do selvagem até os limites de sua própria possibilidade; “...não pode ficar encerrado, mas se manifesta e se ultrapassa em uma modificação infinitamente aberta e nova”. (ibid).
            Toro (1991), falando sobre a patologia da civilização, afirma que ela é conseqüência da repressão ou negação da vivência pela consciência. O mundo corporal sensível e visível é algemado, encarcerado e mantido em rígida subordinação à consciência. Por outro lado, esta só pode se manifestar como totalidade reflexiva que abrange, expressa e integra simbolicamente o Ser, quando se enraíza na naturalidade corpórea e na espontaneidade animal. Somente assim a consciência se revela como guia do selvagem no mundo histórico, e não a sua carcereira.
            Quando a consciência não flui da vivência, reprime qualquer possibilidade de expressão do selvagem, de um mundo instintivo e humano. A expressão emocional é reprimida, os instintos proibidos e o corpo negado.
           
            b. Movimento
            É a propriedade básica e mais geral da vida, junto com a diversidade e a integração. Quando nos movemos temos a expressão mais genuína da vida acontecendo em nós na forma de gesto ou dança.
            A dança é o movimento do ser visível, estético e expressivo, capaz de autonomia e vinculação. Cada gesto, cada expressão, revela a vida sucedendo como singularidade. Olhar e ser olhado, abraçar e ser abraçado, acariciar e ser acariciado, caminhar, saltar, correr, se deitar no chão, mover-se com potência e suavidade, aproximar-se e afastar-se, todos eles vêm de muito longe e é necessário cultivá-los em nossa vida.
            Esses gestos constituem a vida humana emergindo desdobrada do movimento geral do Universo, da dança, das energias/partículas, da dança do pólen e das estrelas – dança de determinações e indeterminações - dança da harmonia gerando o caos e este, como Pai, germinando a Mãe que o gerou.
            Quando cessa o movimento, cessa o calor, a vida, vem o frio e a rigidez. A depressão, como qualquer doença, caminha neste sentido da degradação da vida e do ser. Ao contrário, quando nos movemos espontaneamente, sentimos nossa abundância interior em cada gesto - sentimos a vida plena.
            Mover-se é pintar na tela da realidade a existência, bem antes de conhecê-la.

“A vivência humana é extremamente rica e ampla, a própria linguagem socializada não é por si suficiente para traduzir essa riqueza das impressões vividas (...).
O movimento enriquece a linguagem e o corpo escolhe a palavra. Foi a melodia do gesto que socializou a forma de comunicação não-verbal e verbal (...).
 A liberdade do movimento é a mais pura, é mediante o gesto que a subjetividade alcança a vida. O movimento é a expressão mais sociológica da liberdade individual. A liberdade é uma conquista. É o movimento que possibilita e assegura sucessivamente a autonomia e a independência” (Fonseca, 1988:167).

            Esses gestos estão no cotidiano de qualquer pessoa ou qualquer povo, em qualquer época ou lugar. Revelam a profunda intimidade entre o sagrado e o profano (Eliade, 1992). Não derivam de uma cultura, senão que surgem dentro dela como expressão de profundos sentimentos individuais e da espécie. Tomam muitas vezes formas culturais, tais como nos ritos, na arte, na religião, nos costumes, na técnica e no ato simples de uma pessoa em seu dia-a-dia. Emergem através das culturas, mas não são produções culturais, são manifestações da sensibilidade frente à vida nas formas as mais variadas, do movimento ao símbolo, da ação ao pensamento. Revelam profundos sentimentos da espécie humana frente à vida.
            Nem todos os gestos, mesmo sendo eles originados na vida, estão voltados para a vida. Muitos decorrem de concepções do mundo originadas em um rigor intelectual desprovido de sua raiz sensível e inocente, sem vinculação com a vida mesma, como é o caso dos gestos fascistas de uma pessoa, de um grupo ou de uma sociedade e podem, também, provir de um ser em degradação.
            O gesto humano, sendo movimento sensível, integrado e evolutivo, vinculado à vida, é dança. Daí o por quê do nome Biodança – a dança da vida, no sentido de Garaudy (1980).
           
“A dança é a expressão mais extrema do Eros Primordial, gerador de vida. Entregar-se à dança é um ato prazeroso e terrível de participação nos grandes enigmas de transformação cósmica; é participar na essência da criação, fazendo surgir o movimento da milenar aprendizagem do contato, do trabalho e da brincadeira.
A dança é não só temerário ato de vinculação ontocosmológica, senão também a celebração da comunidade entre os homens. Tem dupla origem: uma sagrada e uma profana, um elemento de eternidade e um de fugacidade.
Na comovedora vivência da dança todas as fronteiras são derrubadas. O externo e o interno, o espiritual e o corporal, o transcendente e o imanente, são aspectos de uma só e única realidade. Ali no movimento inseparável dos corpos, misturam-se as energias do coração com as que chegam do Cosmos, do vento e das estrelas.
Da inocência, da dança surge a mais avassaladora sensualidade, porque os batidos da vida são sempre um impulso do contato. Os corpos possuídos pelo ímpeto da dança reproduzem, as tempestades do mar e tremor das flores ao vento” (Toro, 1991:487).

             O CORPO TEM UMA LINGUAGEM PRÓPRIA

Como vimos anteriormente, a linguagem é construída mediante a criação e uso do símbolo; precisa da língua e da história social. Origina-se no movimento da consciência no mundo e possui uma direção consciente, uma intencionalidade. Encontramos, também, no interior da linguagem, espaços de não-consciência, mas sua organização é consciente. O corpo, também, se submete a essa mesma intencionalidade da consciência. Apesar do controle voluntário, possui, também, um enorme espaço de não-consciência.
A intencionalidade tanto da linguagem como do corpo manifesta uma vontade, uma dada realidade do sujeito, entretanto, esta é insuficiente para a sua compreensão. Há algo mais na comunicação que revela e desvela o sujeito para o outro e para ele mesmo – é a metacomunicação, ou seja, o que estou dizendo quando digo algo. Há um conteúdo comunicado intencionalmente e um outro comunicado não-intencionalmente; os dois dizendo o mesmo (espontaneidade) ou dizendo coisas diferentes (incongruência) – o intencional e o espontâneo sendo uma só coisa, ou sendo coisas diferentes na relação com o outro e com mundo.
Tanto o corpo como a linguagem, estão dentro e fora do espectro da consciência, dentro como comunicação, e fora, como meta-comunicação. Nos dois campos o sujeito diz ao outro e se diz, revela e desvela a sua presença, como intenção e como expressão.
A espontaneidade (expressão) é mais antiga que a intenção, mesmo em se tratando da intencionalidade animal. A expressão e a intenção vêm da Biologia e ganham contornos cada vez mais sofisticados em seu caminhar em direção à Psicologia e à História, mas a expressão continua mais enraizada na vida instintiva, enquanto a intenção ganha outros contornos situados na esfera do simbólico, do cultural, da linguagem. A expressão se situa na esfera da sensibilidade e da vivência, enquanto a intenção se situa na esfera da consciência manifesta. A expressão se encontra na esfera do não-controle, em sub-sistemas mais antigos da atividade cerebral e psíquica.
É comum se dizer que a linguagem pode esconder o individuo, mas o seu corpo não. Isto porque a amplitude de controle, pela pessoa, do seu processo da linguagem, é bem maior, muito maior, que a amplitude de controle da expressão corporal. 
            Podemos dizer que há uma linguagem escrita, uma falada e outra gestual, como podemos dizer que há uma linguagem espontânea, tanto na fala, na escrita, como no corpo. Neste, a comunicação é muito mais forte, assim como a meta-comunicação, por ser direta, visível e imediata, com a clareza da concretude do aqui-e-agora.
As linguagens falada, escrita ou gestual (gesto intencional), são mais novas na escala evolucionária e operam por meio de símbolos organizados em uma língua ou outro código, tendo um avançado grau de autonomia frente às situações concretas da vida e de sua imediaticidade, mesmo no caso do gesto (controle do gesto). Isto porque o pensamento permite um distanciamento do imediato, do tempo presente, do aqui-e-agora.
Por outro lado, mesmo tendo uma marca histórica (couraça muscular do caráter), a expressão corporal é imediata, instantânea, reveladora da pessoa no seu aqui-e-agora, já que a sensibilidade e a vivência são preponderantes e decisivas na situação imediata, muito mais do que a intencionalidade da fala ou do gesto adotados naquele instante.
            Temos, então, uma linguagem construída por meio de símbolos – discurso falado ou escrito, linguagem gestual, também simbólica, e uma linguagem sem símbolo, vivencial, espontânea, expressiva, sem intencionalidade. A linguagem mediante símbolos tem seu elemento expressivo, o qual gera significados fora do controle de criação do texto pela própria pessoa. Neste caso, o símbolo constitui a mensagem, o código – quem discursa codifica, organiza o texto escrito, falado ou gesticulado, mas, mesmo assim, o texto é, também, expressivo, foge ao controle da consciência; por exemplo, quando a pessoa escolhe os vocábulos e as frases para dizer algo, e também para se situar dentro do seu próprio dizer. Esta escolha, em certa parte, foge ao controle intencional do dizer o que se quer dizer – é a metacomunicação. Outro exemplo é a entonação, a pausa, o timbre, etc. No caso do corpo, este revela a mensagem no gesto, o gesto contendo o significado dado intencionalmente pela própria pessoa e um outro significado apresentado sem intencionalidade. No primeiro caso, a linguagem gestual é construída intencionalmente por operações mentais que necessitam da língua e do pensamento; no segundo caso, não é bem assim, pois neste não há símbolo para construir o gesto; o significado desse gesto se origina em instâncias mais antigas, pré-reflexivas, pré-verbal, lugar da sensibilidade e da vivência.   
            Tanto a fala como o corpo, estão no campo da significação e da expressão, em suas dimensões reflexivas e pré-reflexivas, ou seja, em suas dimensões intencional e espontânea. Desse modo, podemos dizer que há uma linguagem do corpo, obviamente diferente, mas é linguagem por que comunica, tanto intencionalmente, por um lado, com seus elementos de significado e sentido, como expressivamente, por outro, com seus elementos de sensibilidade e vivência. Como a linguagem falada ou escrita, o corpo revela algo que todo corpo intencionalmente revela (significado) e, ao mesmo tempo, revela algo que só este corpo intencionalmente revela (sentido); além disso, revela também algo que não sabe que revela ou se descobre revelando sem deter o controle dessa revelação.
Isto significa que a fala e o corpo podem dizer a mesma coisa (espontaneidade) ou não (incongruência); integra a pessoa ou a dissocia. 
O corpo traz a marca da história da coletividade e do próprio individuo, tanto de um modo não-consciente como de um modo intencional. Revela e desvela o passado no presente, mas continua sendo presente, diferente da linguagem, que é passado ou futuro, e nunca presente. A linguagem trata de algo que já passou ou que virá, mesmo que seja um pouco antes ou um pouco à frente do instante vivido pela pessoa (corporeidade vivida).
A grande diferença entre fala e corpo está na esfera do não-controle, na qual o corpo é mais expressivo, mais espontâneo, mesmo estando tensionado, controlado e encouraçado. Outra grande diferença é que a fala é subjetiva e o corpo é visibilidade. Daí poder-se dizer que na fala se mente, se engana, se esconde, mas no corpo não há condição disso acontecer, não há tanto controle, pois grande parte de sua regulação está na região do instinto, da emoção, da sensibilidade e da vivência, diferentemente da fala, que é mais controlada pela região mais recente do córtex e que, por isso, tem mais autonomia frente às condições imediatas. O corpo é, também, muito controlado pelo córtex (sensorialidade-motricidade), mas, mesmo assim, bem menos que a linguagem; por ser mais antigo, é mais livre para viver a espontaneidade. Enquanto a fala se cala, o corpo não, grita, mesmo contido no instante em que, também, se cala a fala.

CONCLUSÃO

A linguagem do próprio corpo é vivencial, nos diz sobre o que há de mais profundo na pessoa em sua conexão consigo mesma, com os outros e com o Universo – de sua intimidade com a Vida.
Se por um lado, o corpo nos diz de algo que a consciência lhe impôs dizer - linguagem intencional do corpo, atos voluntários carregados de significados e sentidos; por outro é linguagem expressiva, visível, estética e visceral.
O corpo fala de um outro modo – vivencial; se expressa, cabendo ao outro, ou a própria pessoa, desvendar o seu significado e sentido, mais pela sensibilidade, intuição e compreensão, que pelo distanciamento e interpretação. Por isso a importância e necessidade da convivência, de uma intersubjetividade que é, também, intercorporeidade, vivência, e não apenas reflexividade e fala.
O corpo tem significado e sentido, mas estes não vêm da língua, vêm da vivência e do movimento espontâneo – da dança do viver. Por esta via dar-se a conhecer e se conhece em profundidade.
A linguagem do corpo, que lhe é própria, que brota dele mesmo e não da língua e do pensamento, é expressiva, não-simbólica, não explica o mundo, apenas revela o vivido ou corporeidade vivida. O corpo expressa, mas sua expressão não é algo que se diz, é algo que se intui e sente, em um outro campo de comunicação, que não é reflexiva, mas empática, estética e, propriamente, corporal, vivencial. Daí advém o significado, do sentir e não da língua. Nos compreendemos pelo corpo porque nos sentimos no ato de olhar, tocar, ouvir, cheirar ou lamber – no ato de estarmos juntos, convivendo espontaneamente, amorosamente, plenamente inteiros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUILAR, Tusta; FREIRE, Paulo. Atreverse a nombrar la realidad en una sociedad científico-técnica. Revista de Estudios Sociales y de Sociología Aplicada. Madrid, nº110, 1998, p. 109-124.
Almeida, Custódio L. S. Método Vivencial: reflexões para uma crítica epistemológica. Monografia de titulação em Biodança, Salvador, Escola Cearense de Biodança, 1994.
BAJTÍN, Mijaíl. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Trad. Michel Lahud; Yara Frateschi Vieira. 4ª ed. São Paulo: Hucitec, 1988.
BARTHES, Roland. Elements de Semiologie, París, Éditions du Seuil (trad. de Maria Margarida Barahona, Elementos de Semiologia, Lisboa, Edições 70, 1984).
BROWN, Gillian; e YULE, George. Discourse Analysis, London, Cambridge Univ. Press (trad. de Silvia Iglesias Recuero, Análisis del Discurso, Madrid, Visor Libros, 1993).
CHAUÍ, M. Merleau-Ponty. Organização de Marilena Chauí. Coleção Os Pensadores, vol. XL, São Paulo, Victor Civita editor, Abril Cultural, 1984.
Chauí, Marilena.  Convite à Filosofia, 3ª ed. São Paulo, Ed. Ática, 1995.
Ciampa, Antonio da C. A estória do Severino e a história de Severina. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1987.
Eliade, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo, Livraria Martins Fontes Ed., 1992.
FIORI, Ernani M. Aprender a decir su palabra. El método de alfabetización del Profesor Paulo Freire. Madrid: Siglo XXI, 1995.
FLECHA, Ramón. Compartiendo palabras: El aprendizaje de las personas adultas a través del diálogo. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1997.
Fonseca, Vítor da. Da filogênese à ontogênese da motricidade. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1988.
FRANKL, Viktor E. Die Sinnfrage der psychotherapie, R. Piper & Co. Verlag (trad. de Jorge Mitre, A Questão do Sentido em Psicoterapia, São Paulo, Papirus Editora, 1990).
FREIRE, Paulo. Conscientização. S.P: Editora Moraes, 1981.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática de Liberdade. 9ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1979.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 3ª ed., R.J.: Ed. Paz e Terra, 1994.
Garaudy, Roger. Dançar a Vida, 3ª ed., Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1980.
GARFINKEL, H. Studies in Ethnomethodology, Nueva Jersey, Prentice Hall, 1967.
Góis, Cezar W. L. Vivência: caminho à identidade, Fortaleza -Ce, Editora Viver, 1995.
HABERMAS, Jürgen. Theorie des Kommunikativen Handelns, vols. I y II, Frankfurt am Main, Suhrkamp Verlag (trad. de Manuel Jiménez Redondo, Teoría de la Acción Comunicativa, Tomos I y II, Madrid, Taurus, 1987).
JAKOBSON, R. Essais de Linguistique Générale, París, Minuit, 1963.
KOHL DE OLIVEIRA. Vygotsky e o processo de formação de conceitos. In: La Taille et al. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992, p. 23-34.
LURIA, A. R. Sin datos (trad. de Luiz Mena Barreto, Marta Kohl Oliveira, Miriam M. M. Andrade e Regina Heloisa Maciel, Desenvolvimento Cognitivo, São Paulo, Ícone Editora, 1990).
LURIA, A. R. sin datos del original (trad. de Maria da Penha Villalobos, O cérebro humano e a atividade consciente, São Paulo, Ícone Editora, 1989).
LURIA, A.R. Lasik & Sosnanie, sin datos (trad. de Diana Myriam Lichtenstein e Mário Corso, Pensamento e Linguagem: as últimas conferências de Luria, Porto Alegre, Editora Artes Médicas, 1987).
MEHAN, H.; y WOOD, H. The Reality of Ethnomethodology, N.Y., Wiley, 1975.
Merleau-Ponty, M. Merleau-Ponty. Organización de Marilena Chauí. Coleção Os Pensadores, vol. XL, São Paulo, Victor Civita editor, Abril Cultural, 1984.
Merleau-Ponty, M. O Visível e o Invisível. 3ª ed., São Paulo, Ed. Perspectiva, 1993.
PIAGET, Jean. La representation du monde chez l´enfant, Paris, Presses Universitaires de France (trad. de Rubens Fiúza, A Representação do mundo na criança, Rio de Janeiro, Editora Record, 1985).
REBELLATO, José Luis. Paulo Freire: educación y proyecto ético-político de transformación, Documentación Social: Revista de Estudios Sociales y de Sociología Aplicada, 110, Madrid, Cáritas Española, 1998: 93-108.
Rogers, Carl. Sobre o Poder Pessoal. São Paulo, Livr. Martins Fontes Ed., 1986.
SAUSSURE, F. Cours de Linguistique Générale, París, Payot, 1949.
SIMÕES Jorge, J. A Ideologia de Paulo Freire. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 1981.
TORO, Rolando. Projeto Minotauro - Biodança. RJ: Vozes, 1988.
TORO, Rolando; GÓIS, C. W. de Lima et al (org.) Coletânea de Textos de Biodança. 2ª ed. Fortaleza: Editora ALAB, 1991.
VITÓN de Antonio, María Jesús. Freire: una herencia para el futuro: aportaciones de P. Freire a la acción socioeducativa de nuestro tiempo. Documentación Social, Revista de Estudios Sociales y de Sociología Aplicada. Madrid: Caritas Española, nº 110, 1998, p. 53-66.
VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas. Trad. A. Alvarez; P. Del Río. Madrid: Centro de Publicaciones del MEC/ Visor Distribuciones S. A., vol. 2, 1993.
VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas. Trad. de A. Alvarez; P. Del Río. Madrid: Centro de Publicaciones del MEC/ Visor Distribuciones S. A., vol. 1, 1991.
VYGOTSKY, L. S. Sin datos (trad. de Jerome S. Bruner, Thougt and Language, Mass., Massachusetts Institute of Technology. Trad. al Portugués de Jeferson Luiz Camargo, Pensamento e Linguagem, São Paulo, Martins Fontes, 1989).