Útero - Unidade de Trabalho e Empreendedorismo Regional Orientado
Vários
estudos apontam para a dificuldade que a população jovem (15 a 24 anos) está vivendo ao
procurar engajar-se no mercado de trabalho. Há um paradoxo ao tentar obter a
primeira experiência de trabalho formal, pois um dos principais requisitos para
o trabalho vem sendo a experiência anterior. Tal configuração implica um
aumento do trabalho informal, cujas condições em que se realiza colaboram
apenas para o aumento da vulnerabilidade e risco do segmento jovem da população
pobre.
Frente a essa
situação, temos os problemas agravados e mais evidenciados no âmbito municipal,
por ser este o lugar mais imediato e concreto da vivência do jovem, onde ele
deseja construir sua vida e realizar seus sonhos. Atualmente, ao invés de
tratar a questão da juventude como problema social, muitos municípios passam a
incentivar a participação dos jovens por considerá-los capazes e responsáveis
pela construção coletiva de suas vidas.
Diante de tal
situação, o Instituto Paulo Freire de Estudos Psicossociais, através de uma
equipe de profissionais (Nara Diogo, Eveline Chagas, Fábio Porto, Íris Bomfim e
Rozane Alencar) sob a orientação e supervisão do autor, desenvolveu uma
proposta na forma de um modelo a ser adaptado à realidade de cada município.
Esse modelo, o UTERO – Unidade de Trabalho e Empreendedorismo Regional Orientado –
caracteriza-se pela permanente capacitação e fomento ao empreendedorismo jovem,
baseando-se na lógica da economia solidária, no fortalecimento dos grupos produtivos
locais e na formação de parcerias com diversas instituições, para que seja
possível reverter o quadro de injustiça social, fomentando a criação e execução
de ações geradoras de trabalho e renda para os jovens (IPF, 2005).
No UTERO os
jovens podem participar de diversos espaços, chamados laboratórios (Laboratório
de Crescimento Pessoal, Laboratório de Competências
para o Trabalho e Laboratório de Criação de Empreendimentos), onde vão
desenvolver suas competências pessoais, sociais e laborais, bem como suas
habilidades de gestão e construir seu projeto de vida. Há também a preparação
de grupos de jovens que desejam se associar, ou grupos produtivos já
existentes, para o processo de incubação do empreendimento, gerando também um
banco de idéias a respeito de possíveis empreendimentos com diferenciais
mercadológicos. Prevê ainda a articulação com instituições responsáveis por
oportunidades de trabalho, que atuam na intermediação dessa mão-de-obra,
facilitando o processo de busca do primeiro emprego. Propõe-se fomentar o
voluntariado e o estágio como formas adequadas ao jovem para que possa adquirir
experiência e conhecer atividades profissionais.
A metodologia
utilizada pautou-se no método dialógico-vivencial desenvolvido por Góis e
Cavalcante em 1984, por compreender que o processo de aprendizagem não acontece
de modo mecânico, por transferência de conhecimentos, mas decorre
fundamentalmente da interação entre pessoas diferentes dentro de um contexto
propício à participação, à reflexão e à afetividade.
Compreendemos
também que o cultivo de um ambiente de participação e encontro é necessário
para o desenvolvimento de habilidades e competências exigidas não somente pelo
mercado de trabalho, mas para a construção de uma sociedade mais justa e
solidária. Desse modo, é possível construir um conhecimento com significado
coletivo, a partir da experiência acumulada de cada jovem envolvido no
processo. Para tanto foram utilizados instrumentos como o círculo de cultura, círculo
de encontro, jogos criativos, recursos artísticos, Biodança, Sociodrama,
Arte-identidade, entre outros.
O
UTERO visa fomentar o empreendedorismo solidário e fortalecer a relação dos
jovens com o mundo do trabalho, contribuindo para sua formação humana e social,
através do estimular o auto-conhecimento e a auto-estima
do jovem, buscando a integração de suas experiências de vida na construção de
suas identidades como atores sociais; auxiliar o processo de tomada de decisões
e a facilitação de experiências mobilizadoras de desenvolvimento, colaborando
com a construção do sujeito do trabalho; estimular, preparar e criar novos
negócios baseados na economia solidária e no desenvolvimento local, gerando
condições prévias para uma ação mais objetiva da atividade de incubação de
empreendimentos; gerar informações sobre juventude e trabalho no município; e
articular parcerias com instituições locais, visando à criação e execução de
ações geradoras de trabalho e renda para os jovens.
No ano de 2006,
a proposta do ÚTERO deu a Eveline Chagas Lemos,
Psicóloga e Assistente Social do Instituto Paulo Freire do Ceará, hoje
trabalhando na rede de saúde mental de Fortaleza, o Prêmio Juventude pelo segundo
lugar obtido na categoria graduação. A proposta foi escolhida entre 287
trabalhos analisados por comissões julgadoras formadas através da parceria
entre a Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da
República, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Este último selecionou os
trabalhos entre artigos científicos e redações a partir dos seguintes
critérios: consistência do artigo e da redação em relação à temática escolhida;
impactos dos resultados esperados e benefícios potenciais para o avanço do
conhecimento em relação à temática e à promoção de políticas públicas; originalidade
da abordagem; e qualidade do texto quanto ao conteúdo e quanto à forma de
apresentação (adaptação de um texto do Projeto UTERO,
de Nara Diogo e Fábio Porto, 2004, realizada por Góis, 2006).
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