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26 de julho de 2014

CARTA DE ROLANDO TORO AOS ALUNOS DE BIODANÇA
1981

Transcrevo abaixo um documento histórico, a mensagem de Rolando Toro a todos os alunos de Biodança, escrita em um dos momentos difíceis da árdua tarefa de construção e implantação da Biodança no Brasil, 1975 - 1982.
Nesse momento ditatorial, os agentes da Inquisição foram o Conselho Federal de Psicologia e a Polícia Federal do Brasil. O ato de deter Rolando Toro em Curitiba, baseados no famigerado Estatuto do Estrangeiro elaborado pela Ditadura Militar, fica gravado na história como uma peça do absurdo e do moralismo. Tentaram expulsá-lo do Brasil, mas fracassaram, foram vencidos pela lucidez de outros e pela luta dos que defendiam a Biodança.

  
            Amigos, filhos queridos, doce gente brasileira,
           
A grandiosidade dos povos se manifesta precisamente nos momentos difíceis e de crise.
            Quando as forças da estupidez e da degradação se conjuram para tratar de destruir tudo o que floresce, o encanto de viver, o júbilo da amizade, o calor apaixonado do amor, a inocência e a fé num mundo melhor; quando essas forças da bestialidade institucionalizada arremetem através de decretos e mandados contra o povo de Biodança e contra a minha pessoa, nesses momentos de inusitada violência, tenho recebido o maior presente que um homem pode ganhar na vida: a intensa solidariedade humana.
Esta união nos faz invencíveis.
De todos os rincões do Brasil, de Fortaleza, bem-amada, generosa e sedenta; da potente São Paulo, eriçada de cimento, distribuindo poesia e desesperação; de Brasília, crepúsculo vermelho e aba dos amigos; do Rio de Janeiro, de mar azul e pele ardente; de Bauru, mágico e íntimo; de Belo Horizonte, magnetismo geológico e realidade de amor; de Florianópolis, intelectual e luminosa; de Porto Alegre, extensa lealdade em verdes prados; de Vitória, de doçuras secretas e voluptuosa inteligência; desde os quatro pontos cardeais do Brasil, como se o vento amazônico juntasse as vontades em um só ponto e me trouxesse as mensagens, os chamamentos, as cartas, as palavras de solidariedade, as mãos estendidas, os abraços.
            Esta noite durmo tranquilo, nos braços de milhares de amigos.
           Irmãos queridos! Nunca me senti tão forte como hoje. Meu coração é uma lança, meu cérebro está desperto e sensibilizado.
           Escrevo esta mensagem depois de sórdidas e dramáticas horas nas quais, junto com minha companheira Cecília, conheci o desprezo e a indecência tangíveis em nossa época.
           Recebam vocês meu amor, minha determinação e gratidão.
         Seguirei a linha traçada pela Biodança.e que um dia se descubra que o paraíso é o irmão.


Rolando Toro, 1981


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